Simpósio V - Nós digitais: literacias, identidade, participação

 

Coordenação: Prof. Doutora Lúcia Amante, Universidade Aberta, Portugal

Resumo
Compreender a vida social na contemporaneidade requer considerar o estudo das redes sociais online já que estas alteraram profundamente a forma como milhões de pessoas se comunicam, compartilham informação entre si e, portanto, também como aprendem. O fluxo constante de informação, de interação e de participação associado à mobilidade, à transversalidade da comunicação e à velocidade com que os conteúdos se expandem tornam as redes um objeto de estudo social incontornável. Neste âmbito, emerge a noção de cultura participatória contrastando com a passividade da cultura consumista dos media tradicionais (Jenkins, 2006).

A emergência, bem como a rápida expansão da cultura participatória tem originado um conjunto de reflexões sobre as suas implicações. Entre outras, oportunidade de aprendizagem inter pares (peer-to-peer learning), mudanças de atitude face ao conceito de propriedade intelectual, desenvolvimento de competências de literacia digital, construção de identidade e processos de socialização e emergência de novas formas de cidadania.
As novas dinâmicas de comunicação, de relação, de participação, e os seus reflexos, decorrentes da possibilidade de “autocomunicação" das redes sociais, independente dos meios de comunicação tradicionais, requerem pois ser refletidas e analisadas, a vários níveis. É neste âmbito que se insere o projeto “nós digitais: literacias, Identidade e participação” que se propõe neste simpósio dar conta do estado da arte no que respeita à análise das redes sociais e cultura participatória, considerando os seus reflexos em diferentes áreas. Simultaneamente pretendemos apresentar e discutir resultados de alguns estudos empíricos que se encontram em desenvolvimento no âmbito do projeto.


Comunicação 1: Redes Sociais e Cultura Participatória

Partindo de uma reflexão sobre o conceito de cultura participatória, procuramos nesta comunicação trazer ao debate a sua relação com a expansão das redes sociais na Internet e o modo como estas permitem o desenvolvimento de novas literacias e potenciam o envolvimento dos atores em redes de participação efetiva. Neste contexto, pretende-se problematizar o tipo de relações que se estabelecem entre os atores, a natureza da sua participação tendo em conta a distintividade das redes socias online, em que medida essa participação alimenta novas dinâmicas relacionais, como se expressam e em que consistem as novas literacias nas redes virtuais bem como de que modo essas literacias se conjugam com uma cultura participatória, centrada não só na produção (ao invés do consumo), mas também na ação participativa.


Comunicação 2: Facebook e Universidade

Procuraremos nesta apresentação caracterizar esta rede social, visando em seguida discutir, com base na literatura disponível, as relações das redes sociais, em particular do facebook, com a sua utilização académica, quer no seu eventual papel como recurso ou espaço específico de aprendizagem, quer como instrumento usado para interações informais sobre assuntos académicos e sobre a cultura universitária em geral. Procuraremos ainda dar um contributo empírico para a abordagem desta problemática com base numa pesquisa em que procurámos analisar a perspetiva dos estudantes universitários sobre a utilização do facebook em relação com a sua vida académica. Com base numa metodologia de natureza quantitativa e recorrendo a uma escala de atitudes procurámos identificar se é dado uso académico informal ao facebook, bem como conhecer a perspetiva dos estudantes universitários sobre as possibilidades de integração pelos professores do uso desta rede nos ambientes formais de aprendizagem dos seus cursos. Discutimos os resultados obtidos, que indicam os estudantes fazem desta rede social um prolongamento natural do espaço formal de aprendizagem e refletimos sobre as suas implicações nos contextos educacionais.


Comunicação 3: Jovens e processos de construção de identidade na rede

Habitando as redes sociais os jovens, mais do que informação, procuram essencialmente construir e inserir-se ativamente numa rede de relações sociais, experiência fundamental para a construção da sua identidade e afirmação da sua personalidade. De acordo com a literatura, a interação desenvolvida entre os jovens cibernautas não produz efeito apenas numa dimensão social de natureza superficial, traz também efeitos significativos na construção da autorrepresentação e na consciencialização que o jovem tem de si mesmo. Tendo por base a rede social mais popular, o facebook, procurámos estudar como os adolescentes exprimem a sua identidade neste contexto, considerando processos implícitos e explícitos de autoapresentação, bem como modos de interação que permitem inferências sobre a construção de identidade e natureza da relação entre o mundo online e offline. Seguindo uma metodologia de natureza qualitativa, analisaram-se páginas do facebook de um grupo de jovens, com idades compreendidas entre os 12 e os 18 anos procurando compreender o papel desta rede social na construção da identidade dos adolescentes. Não se pretendendo generalizar os resultados, podemos no entanto afirmar que, entre outros aspetos, foram clarificadas formas de construção/afirmação da identidade nesta rede social, evidenciando-se o papel preponderante da imagem, bem como a estreita relação existente entre o mundo online e offline dos adolescentes.


Comunicação 4: Facebook no Ensino Secundário: evidências de participação cívica e política

As interfaces tecnológicas proporcionadas pela Web 2.0 constituem um terreno fértil para mudar os mecanismos da sociedade e de criar redes de comunicação digital e de interesses conducentes à revelação de novas práticas cívicas e políticas no espaço online e offline. As redes de tecnologias digitais e a maleabilidade dos novos media abrem espaços flexíveis e descentralizados à criação e publicação de conteúdos, pelos utilizadores, difundindo novas formas de informação, participação e de comunicação, à volta de questões ou visões partilhadas pela sociedade em rede, sem fronteiras.
Tendo em conta este fenómeno, propusemo-nos a desenvolver um estudo empírico tendo em vista a identificação de evidências de envolvimentos sociais, práticas de ações políticas e de cidadania da utilização que os jovens portugueses estabelecem com a rede social Facebook.
Adotou-se uma metodologia de carater predominantemente quantitativo recorrendo a um Inquérito por questionário a estudantes de 3 Escolas do Ensino Secundário, duas na Área da Grande Lisboa e uma no Alentejo Litoral. Apresentamos os resultados obtidos, a sua análise e interpretação, discutindo as suas implicações bem como desenvolvimentos futuros nesta área específica de pesquisa.

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